Eu sou o capitão da minha alma

John Carlin retratou em seu livro “Conquistando o Inimigo” como Mandela foi habilidoso em encontrar meios singelos para promover a concórdia entre brancos e negros, sendo o esporte um dos mais eficazes. Carlin conta como Mandela se aproximou do capitão do time de rúgbi da África do Sul, François Piennar, incentivando-o a acreditar em sua equipe, para que esse a liderasse com garra e ganhasse a Copa do Mundo de Rúgbi do ano de 1995.

A primeira sequência de Invictus mostra Mandela saindo da prisão, em 1990, passando ao lado de dois campos distintos. Em um campo há garotos brancos, devidamente fardados, treinando rúgbi e, no outro, meninos negros maltrapilhos jogando uma pelada de várzea. Os negros gritam “Mandela!, Mandela!, Mandela!”, enquanto os brancos lamentam o fato de o “terrorista” ter sido solto. Com essas cenas, Eastwood já sintetiza o que virá pela frente.
Ao ser libertado pelo então presidente Frederik de Klerk, Mandela assume como líder do Congresso Nacional Africano (CNA), procurando conter os ânimos exaltados que quase culminaram em mais uma guerra civil na África do Sul.

“Nós queremos provar que somos o que eles temiam que nós fôssemos. Mas nós precisamos ser melhores do que isso. Temos de surpreendê-los com compaixão, com moderação e generosidade. Eu sei. Todas as coisas que eles nos negaram. Mas não é hora de comemorar uma vingança mesquinha. Este é o momento de construir a nossa nação usando cada tijolo à disposição, mesmo que o tijolo venha embrulhado de verde e dourado. Vocês me elegeram seu líder. Deixem-me liderá-los, agora.”


E Eastwood mostra que Mandela tinha razão na cena em que dois policiais brancos estão ouvindo o jogo pelo rádio do carro e um menino negro aparece, catando coisa no chão, sem dar a menor atenção ao placar. Quando os Springboks empatam a partida, e uma esperança de vitória existe, o menino se aproxima dos policiais, que o tratam como igual, e os três formam uma eufórica torcida.

Morgan Freeman estudou cada gesto, olhar, andar e atitude de Nelson Mandela, interpretando de forma singular o então ex-presidente da África do Sul, superando até mesmo Frank Langella e sua caracterização de Richard Nixon no filme Nixon/Frost (2008). Em minha opinião, é Oscar pra receber com plateia ovacionando e tudo o mais.
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